domingo, 20 de abril de 2008

Meu personagem na janela


Oficina de Criação de Romance Histórico

Alcy Cheuiche


O lugar preferido de Carmem era o lado esquerdo da janela da frente. Era dali que ela informava a Dona Julia, o que acontecia do outro lado da parede.

- Com o dia está ensolarado, e o casal de velhos voltou a sentar-se no banco em baixo do pé de plátano. Ela veste um vestido branco com flores azuis, tem mangas longas e justas, e a saia é rodada.

Acho lindos os vestidos rodados. Dão um ar de feminino antigo. O seu acompanhante parece mais jovem que ela, mas é velho também. Tem os cabelos grisalhos e encaracolados. Agora eles tomam um suco que acabaram de comprar.

Do outro lado do passeio da praça, onde um casal de pombos cantarola e se aproxima para acasalar, duas crianças negras correm atrás da bola colorida que a moça lhe ofereceu.

Ms eu prefiro olhar para os namorados. Agora o João já pode pegar na mão da Maria, que até ontem se negava a deixar que esta intimidade acontecesse. Ela ri faceira porque também desejava que sua mão fosse acariciada pela mão forte do João. Suas faces ficaram rubras, e seu cabelo caiu-lhe no rosto. Acho que ela está envergonhada.

Mas dona Julia quer saber se o vendedor de milho verde ainda se encontra na praça. Seu José é seu amor de sempre.

- Pode até ter casado com aquela sirigaita, mas é a mim que sempre amou. Era comigo que queria casar. Não fosse as exigências exageradas de papai, ele teria casado comigo. Ele era alto, forte, tinha cabelos dourados que brilhavam com o sol. Ele nos visitava sempre ao meio dia, no horário do seu intervalo de almoço. Mas papai não dava folga. Mal ele chegava, ele já dava um jeito de arranjar algo para que eu saísse da sala.

Quando nos mudamos de Andorinhas, José permaneceu morando por lá, só fomos nos encontrar agora, quando comecei a morar aqui.

-Mas dona Julia, ele parece tão feliz com aquela senhora que o acompanha sempre! Ela coloca o sal no milho e cantarola enquanto entrega a freguês. Ele olha encantado para suas pequenas mãos. Dá um sorrisinho maroto quando pega, da sua mão, o dinheiro . Ele me parece encantado.

-Tu não sabes da vida, menina. O amor é algo que não termina, ainda que tenhamos de apagar sua aparência, despistar suas evidências.

-Olha, Dona Julia, chegou o homem que recolhe o lixo. Ele está com uniforme cor de cenoura. Acho que brilha na luz.

Sebastião entra na sala, e pára atrás da cortina para escutar a conversa das duas: Ele nem acredita no que houve. Fica um pouco mais enquanto as duas tão absortas na conversa não percebem sua presença silenciosa. Até que um espirro lhe denuncia e causa um grande susto nas duas.

-Quem está aí, pergunta dona Julia? Carmem tentando adivinhar e continuar a brincadeira da praça, da velhinha do vendedor de milho, diz: Acho que é o padre!

Sebastião, emocionado com a alegria das duas, continua a brincadeira, descrevendo a praça, as pessoas, os pássaros como se as duas realmente enxergassem alguma coisa. Ou como se algum dia tivessem enxergado a luz do dia.

Bem Vindos

Homens e mulheres! Sejam bem vindos à minha janela. Descansem no seu parapeito. Embalecem-se nas redes das minhas idéias, das nossas... Acalalentem-se com a música. Esta aí. Esta mesmo que estás ouvindo.
Adrentem pelo portal e prossigam. Venham. Vamos trocar. Vamos aprender juntos. Vamos rir. Podemos chorar também. Haverá um lenço por aí. Entrelacemo-nos nas idéias, nas músicas, nas palavras, nos prantos e nas danças... e dancemos...

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