terça-feira, 12 de agosto de 2008

A sacada Entreato

A sacada, por sabedoria ou desalento, se calou e serviu de amparo ao boêmio que nela se apoiara. Pequena é verdade, mas forte todavia. Sustentou a todos que dela se utilizaram para o desfrute. O louco via o caramanchão verde que sobre ela se debruçava. Os mendigos falavam palavras soltas. O cachorro passava quieto. A velha arrastava os chinelos. A lua maquiada de branco testemunhou o evento.

O poeta viu, sorriu e chamou a todos: Venham na sacada. Olhem a noite. Cheirem o verde. Enamorem-se da lua. Vieram todos. Encantaram-se, como se fosse aquela a ultima noite, como se fosse a última lua. Como se o jacarandá estivesse de partida.
Mas todos ficaram e, silentes, debruçaram-se no parapeito enquanto a noite escorregava sobre as pedras lisas da calçada.

Os namorados despediram-se tristonhos porque era hora de se recolher. O garçom fechara a porta. A rua vazia não tinha nenhum som. Nenhum barulho. Até o mendigo já se recolhera. O poeta permanecera embriagado no seu delírio poético. Uma brisa discreta lhe roçava o rosto, num bolero dançado pelo par de folhas que, enamoradas, se embalavam de um lado para o outro. Só o poeta ficou um pouco mais a fazer companhia a pequena sacada, que, aconchegante e acolhedora, também se recolhia no sossego da madrugada.

Foram-se todos embora. Até o poeta. E ela ficou ali sozinha. Acordada. Sacada não dorme.

Amanhã outros poetas virão. Outros loucos, ou bêbados. Também os namorados deverão vir. Os jovens, os cornos, as belas. E ela, a sacada, servirá a todos de colo para incendiarem seus sonhos, cantarem seus cantos, trocarem seus beijos, declamarem seus poemas e abraçarem seus amigos.

Bem Vindos

Homens e mulheres! Sejam bem vindos à minha janela. Descansem no seu parapeito. Embalecem-se nas redes das minhas idéias, das nossas... Acalalentem-se com a música. Esta aí. Esta mesmo que estás ouvindo.
Adrentem pelo portal e prossigam. Venham. Vamos trocar. Vamos aprender juntos. Vamos rir. Podemos chorar também. Haverá um lenço por aí. Entrelacemo-nos nas idéias, nas músicas, nas palavras, nos prantos e nas danças... e dancemos...

Arquivo do blog